Um texto para homens…


​                A história geralmente começa na infância, por algum motivo você teve poucos amigos, talvez seus pais tenham mudado de casa ou de cidade, talvez você fosse o menino pobre do bairro ou da escola, talvez o mais gordo ou diferente, quem sabe se sentia mal de óculos sem poder jogar bola para não quebrá-los, talvez sua religião fosse diferente ou seus pais fossem separados e sua mãe o prendia em casa dentre tantas outras possíveis histórias.

Algum motivo que você provavelmente não controlava te atrapalhou no processo natural de criar amigos e foi te tornando “ilhado” e na tentativa de superar a rejeição que consequentemente ia acontecendo na escola, no bairro e em todos os lugares você procurou algum outro caminho para continuar em frente. E existe uma regra que eu aprendi ao estudar como a Psique humana funciona:  “toda compensação traz uma certa deformação” e, nesse processo, as pessoas criam uma dicotomia entre o que elas são para a sociedade e o que são para si mesmas, desperdiçando nisso uma enorme energia vital.

Pronto, você foi aprendendo a criar dois de você: um que ia para escola e que lutava contra o mundo e um outro que só aparecia quando você estava sozinho e finalmente em paz. Estar sozinho era sinônimo de paz, você podia ser você mesmo e sua auto-estima adorava isso.

Estar sozinho significava que nenhum outro estaria apontando para você, ou te avaliando, te julgando ou reafirmando a auto estima deles sobre você. Pois é isso que crianças fazem todos os dias e é isso que adultos fazem todos os dias, reafirmamos nossa auto estima com nossos carros, nossas roupas, nossas casas e todos os símbolos de poder e status disponíveis para nossa sociedade.

E os adultos? Os adultos estavam ocupados, trabalhando, pagando contas, lidando com “problemas de verdade” e mesmo se quisessem, não poderiam fazer nada, ser esquisito, diferente, rejeitado já havia sido instalado em você por uma sequência de pequenos traumas, daí a importância de se entender o poder do Bullying na vida das pessoas.

Entenda, você não era nada disso, o ambiente a sua volta era diferente de você e quando somos crianças o ele  possui poder mais que o suficiente para nos moldar e nos molda! Molda-nos profundamente.

Agora você tinha um problema, ser quem você era ou ser o que o ambiente exigia que você fosse e a minha experiência diz que no final você luta, luta, luta e não consegue ser nenhum dos dois até finalmente desistir de ser o que eles querem. Mas chegar nesse nível é uma jornada tão difícil que você nunca sabe se já concluiu ela ou se apenas está em outra fase da vida.

Então chega a puberdade e uma avalanche de sensações novas começa a surgir no seu corpo, seus olhos já começam a olhar as meninas de um jeito diferente, seu corpo começa a ter uma força e uma energia NOVA que você não tinha antes, aquilo vai aumentando com o tempo e ocupando cada vez mais a sua mente.

E novamente o destino tem um poder enorme sobre o seu futuro, pois os primeiros contatos sexuais vão definir uma série de padrões mentais que vão gerir a sua vida por muito tempo.

Qual o padrão de homem que rege a nossa sociedade já há muitos anos? Qual tipo de homem é venerado por outros homens na televisão, no rádio, na internet, pelos seus pais, pelos seus atuais amigos? Qual padrão de homem é desejado pelas mulheres nesses mesmos mundos?

A resposta destas perguntas vão definir com 70% de precisão o homem que você se tornou e você vai descobrir que essa tal liberdade que acredita ter é no fundo uma prisão que você está a tanto tempo que já acredita ser o único mundo que existe.

E aquele eu que você criou para enfrentar o mundo agora tem uma nova força, a libido, uma nova energia poderosa e transformadora e naturalmente você vai a busca disso.

É quando começamos a cometer um erro que vai nos matando pouco a pouco, um veneno tão sútil que você só percebe quando já é tarde; Tão viciante que você se recusa a parar; Tão traiçoeiro que você não conhece outro caminho: Transformamos pessoas em objetos de prazer, na tentativa desesperada de compensar nosso ego frágil e volátil.

Você quer o que sempre quis, ser verdadeiramente amado pela pessoa que você realmente é, mas agora você está perdido e já não sabe mais. A vida adulta vai chegando junto com tudo isso e com ela os problemas inerentes a essa fase da vida. Você precisa continuar equilibrando sua auto-estima enquanto continua vivendo e tentando ser alguma coisa que nem sabe direito o que é… É uma fase complicada e dolorida e você encontra alívio em jogos, em filmes, em livros, em vídeos no youtube, em artigos que lê na internet, no sexo casual, nas noites de paquera, em comprar símbolos de status e em qualquer outra coisa que possa ajudar você a reafirmar sua auto-estima, a se sentir melhor e continuar em frente.

E meu amigo, você vai fazer merda…

E talvez sejam esses momentos que te salvem ou te joguem ainda mais para baixo, vai depender da forma como você encarar o que acontecer e o que conseguir aprender com esses erros. E nós erramos muito… Principalmente quando lidamos com outras pessoas, com outras histórias diferentes da nossa, com outras dores, outras expectativas e outros problemas.

Se não estamos bem com nós mesmos não conseguiremos ficar bem com ninguém, e a partir do momento que você sabe disso, tudo muda. Já não pode mais simplesmente culpar a infância e repetir os mesmos erros pois eles vão te levar aos mesmos lugares. Não pode mais se esconder em velhas fórmulas de reafirmar a sua auto-estima pois elas vão perdendo o efeito, não pode mais simplesmente fingir que está tudo bem pois já tem feito isso há muito tempo e não tem dado certo.

E novamente, a velha pergunta, companheira de tantas noites mal dormidas vêm na sua mente: O que eu faço agora? O que eu realmente quero pra minha vida?

Esse texto é apenas uma reflexão compartilhada, sem o objetivo de lhe dar respostas, com no máximo a pretensão de sugerir algumas reflexões. Ele foi feito em uma mistura não científica da história de vários pacientes/coachees e a minha própria história, minha própria dor.

Espero que te ajude de alguma forma.

Abraços.

Rodrigo Merjam Mota.

Revisado por Andreza Cathcart Figueiredo

 

 

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