“Pra que dinheiro?”, “Money”, “Pecado Capital”, “Não quero dinheiro”, “Falta um zero no meu ordenado”, “Com que roupa?” e “Money for nothing” são títulos que rendem uma saborosa audição de samba e rock, além de uma boa discussão sobre finanças. As músicas valem como um jeito lúdico de entrar no universo da educação financeira, especialmente para milhões de brasileiros que resistem a aprendê-la, embora seja uma disciplina imprescindível. Ainda assim, mesmo quem domina regras de como economizar pode cair em armadilhas.
Para romper as amarras do consumo e praticar ações para ter sempre sua conta no azul, é essencial conhecer e praticar a chamada inteligência financeira. Trata-se de um conceito que vem tomando forma e que, de certa maneira, dialoga com temáticas correlacionadas, como inteligência emocional, múltiplas inteligências e inteligência racional.
Especialistas são unânimes ao defender que a pessoa deve guardar ao menos 10% do que ganha e saber sempre distinguir ativos de passivos. Lembrando que ativo é aquilo que rende dinheiro no bolso e passivo é o que tira recursos dele. É primordial, também, estabelecer valores e objetivos bem claros sobre até onde se quer chegar financeiramente. Ao contrário do que alguns acreditam, um carro, por exemplo, é sempre um passivo, jamais investimento. Mas tais propósitos variam para cada indivíduo e de acordo com seu momento de vida (idade, filhos, tipo de profissão, etc).
Adotar essas premissas apenas racionalmente pode ser frustrante. “Não adianta fazer cursos de educação financeira, economia ou contabilidade porque esses conhecimentos lógicos não bastam. O que o faz praticar inteligência financeira não é o que você sabe, mas o que você faz”, afirma Roberto Navarro, fundador do Instituto Coaching Financeiro, que já formou 6,5 mil profissionais em orientação e inteligência financeira. A gama de cursos ainda abrange alunos que só querem melhorar de vida e que pretendem saber mais sobre investimentos.
Isso ocorre, segundo Navarro, porque o dinheiro é racional, mas é, ao mesmo tempo, emocional e espiritual na forma de lidar com ele. “Pessoas com problemas financeiros sofrem em pelo menos uma dessas áreas. É preciso equilibrar as três. Não é por acaso, 43% das famílias no mundo gastam mais do que têm. Isso é fruto da falta de propósito de vida. Gasta-se para satisfazer um problema momentâneo. Quando ocorre a falta do dinheiro, ao invés da pessoa ter tranquilidade, avaliar no que errou e tentar resolver a situação, acontece o contrário: entramos em desespero.”
Como fazer?
Segundo Roberto, para desenvolver inteligência financeira é importante atuar em várias fases. A primeira delas é saber como se ganha e se gasta. Se a renda só vem do salário, a pessoa corre certo risco, já que o emprego não é eterno. Usar a criatividade para gerar coisas novas ou empreender pode ser uma boa alternativa de renda. O segundo passo é multiplicar ganhos com algum tipo de investimento. Em terceiro, vem a proteção, com mecanismos semelhantes aos seguros de vida. “Em paralelo a essas etapas, temos de ficar antenados ao que acontece no mundo. Buscar mentores e nos preparar também”, recomenda.
Dicas Financeiras
1. Tenha sempre muito claro os seus valores – o que é importante para você agora e o que será importante daqui a dez anos.
2. Descubra sua situação financeira atual e faça sobrar dinheiro – riqueza é primeiro ser capaz de viver e ser feliz com menos do que você possui. É fazer sobrar.
3. Faça diferença entre ativos e passivos. Ativo é aquilo que coloca dinheiro no seu bolso e passivo é aquilo que tira dinheiro do seu bolso. Carro é um exemplo de passivo.
4. Mais importante do que saber o quanto você ganha, é saber o quanto você mantém e como está gastando seu dinheiro.
5. Utilize mecanismos de proteção do seu dinheiro.
6. Use a criatividade para empreender pequenas coisas e pense em formas de ampliar a renda.
7. Estude educação financeira e pratique inteligência financeira cotidianamente – invista em você e em seus ativos.
Muita gente bate no peito e diz que não compra nada financiado. Mas isso não quer dizer que essas pessoas sejam inteligentes financeiramente. “Inteligente é gerar um dinheiro novo para financiar o passivo que deseja comprar. O segredo da riqueza está aí”, define Roberto Navarro, cita o caso de um ex-aluno, que comprou uma sala para, com o aluguel que passou a receber, ajudar a pagar o financiamento do carro. Após cinco anos, o valor do aluguel havia aumentado bastante, enquanto a prestação do carro era a mesma. No final das contas, ele quitou o carro e permaneceu faturando com a utilização da sala.
Outro exemplo de inteligência financeira, é associar-se ao Sicoob. “Na nossa empresa, tudo é movimentado pelo Sicoob e por outro sistema cooperativo da região. Em vez de outras instituições financeiras, que me cobram taxa cinco vezes mais altas e não me oferecem benefício algum, eu uso a cooperativa financeira. Nos nossos eventos, recomendamos às pessoas a abrirem contas em cooperativas”, diz Roberto.
ATÉ HIPNOSE AJUDA// E as ferramentas se multiplicam. Até hipnose pode ser aplicada para melhorar o desempenho em inteligência financeira. “Na minha clínica, ajudo pessoas a destravarem empecilhos que, emocionalmente, podem atrapalhar no processo de enriquecer. Também as auxilio a serem mais criativas, terem mais foco, disciplina e equilíbrio. A hipnose pode programar sua mente para você fazer o que deseja”, descreve o psicólogo, hipnólogo e coaching Rodrigo Merjam, que dirige um instituto com seu nome em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
Antes de tentar economizar 10% do que se ganha, alerta Rodrigo, é fundamental saber no que se gasta. Tem de sentar e conferir os centavos, minuciosamente, ou seja, tirar uma foto da situação atual para depois mudá-la. “Já orientei profissionais que gastavam mais de R$300,00 com café. Iam para sucessivas reuniões com clientes em cafeterias.” A grana escorria sem perceber qual era o ralo. Em outros casos, as pessoas sanaram dívidas mudando de endereço ou simplesmente desativando a piscina de casa, que consumia à beça e, muitas vezes, sem ser utilizada.
“Se a pessoa conseguir sair das dívidas e fazer sobrar 10% da sua renda, ela se tornará mais rica que 80% da população brasileira”, diz Rodrigo. “É uma situação delicada se você ganha R$20 mil e gasta R$21 mil. Mas se você ganha R$4 mil e guarda um pouco, é um grande passo para o sucesso”, compara. De acordo com Rodrigo, depois que se aprende a inteligência financeira, a realizamos com prazer. “É automático. Somos feitos de hábitos. A mente da pessoa precisa entender que o que ela tem é suficiente para viver. A partir daí, começa-se a enriquecer.”
Fonte: Revista Sicoob, Ano 7, Número 31, Out/Nov/Dez 2017