Ser e deixar ser. Este princípio tão simples e elementar não é muito aplicado. Nem todos têm consciência de que cada um de nós tem um ritmo, uma música interior e um modo de ver e de sentir as coisas. Talvez por isso nos vejamos obrigados a nos proteger das pessoas que ousam nos desafiar e moldar as nossas emoções de acordo com a sua vontade.
Vamos falar de ritmos. É um tema tão delicado quanto desconhecido, e nem sempre temos consciência dele. Além disso, atualmente estamos quase obcecados em promover uma aceleração dos ritmos em todos os níveis: as crianças devem aprender o quanto antes a ler e a escrever, os adolescentes devem se comportar como adultos, e nós, os adultos, não fazemos mais do que nos compararmos com os ritmos dos outros.
Esquecemos que para aspirar uma verdadeira harmonia interna, não precisamos tomar como referência o dinheiro, o poder ou o prestígio, muito menos ficarmos obcecados pelo que nos falta e pelo que os outros já conseguiram. Ao manter este esquema de vida, a única coisa que vamos conseguir é mendigar e andar em círculos, ao ritmo de uma música tosca e caótica.
A verdadeira harmonia começa por si mesmo. Só quando alcançamos a calma, o autoconhecimento e a humildade de coração onde nada sobra e nada falta, o mundo chega a um equilíbrio mágico. Não importa o quão rápido o mundo gire, não importa quais são as exigências dos outros: porque o farol da felicidade está no nosso interior.
Mais rápido, por favor
No livro “Alice Através do Espelho”, Lewis Carroll nos deixou um momento digno de reflexão que cientistas e sociólogos não tardaram em reproduzir para desenvolver o que conhecemos como “Hipótese da Rainha Vermelha”. Quando Alice chega no país das maravilhas, após uma conversa prévia, a Rainha a toma pela mão para iniciar uma corrida. Ela deve fazer isso porque neste mundo todos correm, e fazem isso muito rápido.
Alice não tarda em perceber que, por mais rápido que corra, ela não avança. Aos poucos a Rainha Vermelha lhe explica o motivo: “Aqui é preciso correr muito para permanecer no mesmo lugar. No entanto, para chegar a outro, é preciso correr o dobro”. Na nossa sociedade ocorre o mesmo. Se acelerarmos o ritmo da criança para mais do que é esperado para sua idade, supostamente iremos aumentar a probabilidade de seu sucesso escolar.
Se demonstramos às outras pessoas que podemos oferecer e fazer mais do que as nossas possibilidades, pode ser que alcancemos o sucesso. No entanto, a única meta que iremos alcançar é a da infelicidade. Estamos envolvidos em um ambiente feroz e exigente que nos pede para ir mais rápido, que nos rouba o tempo, a calma, e até mesmo a vida.
Mas temos que levar em conta que nada cresce em um mundo de pressa. Porque tudo nesta vida tem seu tempo de cozimento, seu tempo de elaboração e de maceração… Assim, para alcançar essa harmonia interna, é necessário estabelecer uma conexão interna com nosso ser para colocar em prática algo muito difícil: deixar de ser o que os outros esperam.
Respeite seus ritmos, respeite o ritmo dos outros
As pessoas são como piões dando voltas por um salão de dança. Umas vão mais rápido, outras mais devagar, outras param de vez em quando, e o resto vai a uma velocidade tão frenética que acabam batendo nas outras. O famoso ditado “ser e deixar ser” não é precisamente fácil e, por isso, é comum em algum momento nos sentirmos sobrecarregados.
Entenda o ritmo do seu coração, cuide dos ciclos da natureza e respeite a música interna que dá força a cada pessoa.
Mihaly Csikszentmihalyi nos explicou em seu livro “O Eu Evolutivo” que são muitas as pessoas que chegam à consulta com um psicólogo em busca de uma lição “rápida” de crescimento pessoal. Elas chegam com um nível de saturação tão elevado que há quem busque soluções rápidas para momentos desesperados.
No entanto, não existem milagres escondidos na manga ou na cartola para o mal-estar da vida. Entender que até mesmo os processos de cura e de reconstrução da autoestima levam seu tempo é algo primordial. Na verdade, assim como nos explica o próprio Mihaly Csikszentmihalyi, quanto maior for o nível de ansiedade, menor será a possibilidade de conseguir atingir este fluxo de vida em que nos sentimos bem, em equilíbrio.
Como encontrar o seu ritmo, a sua música interna
Já sabemos que para alcançar essa necessitada calma interior vamos precisar de tempo, vontade e dedicação todos os dias. Uma vez que percebermos que toda mudança envolve responsabilidade, iremos aplicar as seguintes estratégias:
- Tenha consciência da sua “bagagem” pessoal. A educação recebida, o perfeccionismo extremo, a necessidade de agradar ou a baixa autoestima são claros inimigos a ter em conta e sobre os quais temos que refletir.
- Analise os seus hábitos. O que você faz no dia a dia? Que acontecimentos fazem você sentir ansiedade ou insatisfação? Por que você tornou crônicos estes hábitos na sua vida se eles te causam infelicidade?
- Consiga o máximo de tempo de qualidade que puder. Se o dia tem 24 horas, você não pode dedicar 12 aos outros nem ocupá-lo com aspectos que não são significativos para você. Tenha em conta que o conceito de “fluir” não está precisamente na inatividade ou em um estado de relaxamento. Está em nos dedicarmos a tarefas com as quais nos identificamos, coisas que nos dão sentido, ritmo, satisfação e, portanto, felicidade. Encontre-as.
Para concluir, é necessário entender que cada um leva seu próprio caminho em seu interior e, por sua vez, se encontra em uma etapa concreta do seu crescimento pessoal. Alguns vão demorar mais para entender certas coisas, e por isso não há outra opção senão ter paciência e praticar o respeito. Vamos aprender a deixar o mundo correr enquanto permanecemos no nosso próprio centro.
Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/respeite-seu-ritmo-dos-outros/