Por Dr. Bayard Galvão.
A psicoterapia tem avançado em termos de rapidez no diagnóstico e tratamento. A síndrome do pânico e problemas de autoestima (entre inúmeros outros malefícios) têm sido superados em até 20 sessões em cerca de 70% dos casos (segundo observado em consultório). No Brasil, a solidificação da psicologia intervencionista vem se mostrando útil, fazendo uso frequente de um antigo instrumento, renovado na sua compreensão e utilização: a hipnose.
Hipnose é o nome dado a fenômenos específicos da psique, os quais ocorrem em maior ou menor nível e variedade no dia a dia, de maneira coerente (caso contrário seria psicose), voluntariamente ou não. Esses fenômenos podem ser provocados por um hipnotista, em maior ou menor nível; se em psicoterapia, dá-se o nome de “Hipnoterapia”, se com a finalidade de entreter, dá-se o nome de “Hipnose de Palco”.
Os fenômenos mais utilizados em entretenimento são amnésia (esquecer um número ou o próprio nome), alucinação positiva (comer uma cebola achando que é uma maçã), alteração da percepção de si (acreditar que está possuído ou é outra pessoa), catalepsia (contração muscular intensa, podendo provocar o “efeito tábua” da cabeça aos pés e colocar indivíduo entre 2 cadeiras) e anestesia (não sentir alguma sensação em alguma parte do corpo, não ocorrendo dor). Os fenômenos mais utilizados em psicoterapia são hipermnésia (memória intensificada), pseudo-orientação no futuro (exercício de imaginar-se intensamente em situações possíveis) e anestesia ou analgesia, para o caso de dor crônica ou aguda.
A hipnose está para a psicologia como a cirurgia está para a medicina. Não sempre é necessária e pode ser usada para melhorar o diagnóstico e aumentar a eficiência do tratamento. Pode-se usar este instrumento para intervenção em diferentes dores psicológicas, como síndrome do pânico, luto, ansiedade generalizada, fobias, depressão, disfunção erétil, finalização de relacionamentos, estresse, transtorno obsessivo compulsivo, autoestima baixa, dor crônica e timidez.
Alguns hipnotistas se orgulham de hipnotizar (provocar algum fenômeno psíquico específico) rapidamente (até 15 segundos). Mas isso é realmente fácil: bastaria conhecer duas ou três técnicas de relaxamento e três frases que provocariam fenômenos, o suficiente para cerca de 20% da população. Contudo, o problema, raras vezes, é conseguir hipnotizar alguém, mas é sempre saber o que fazer com o indivíduo com depressão, com a lembrança de críticas excessivas do pai, falta de amor da mãe, bullying, sequestro, aprendizagens ruins sobre sexo e outros sofrimentos.
Psicoterapia é o processo de facilitar um paciente a aprender a lidar com o medo da morte, de traição, de rejeição, baixa autoestima e/ou outros sofrimentos do viver. Infelizmente, muitos aprendem a hipnotizar, mas não a meditar sobre esses problemas. Pior ainda, acham que sabem tratá-los, dispondo-se a se tornarem hipnoterapeutas, piorando a situação. Quando assim ocorre, apenas dizem que foi uma limitação do paciente, quando foi um erro deles.
Portanto, hipnotizar é fácil, saber usar os fenômenos é outra história, muito mais complexa. Alguém que saiba provocar uma hipermnésia a um trauma equivale a saber usar um bisturi para chegar até o coração, o que não significa que saiba o que fazer quando vê-lo, podendo, obviamente, provocar muito mais dano do que benefício.
A evolução da psicoterapia cria a possibilidade de pensá-la no mesmo contexto da medicina, ou seja, o paciente leva uma queixa; faz-se um diagnóstico, é explicado o mesmo ao paciente, dentro do razoável e possível; propõe-se a intervenção, fazendo uso dos diferentes possíveis instrumentos à mão e lança-se à intervenção.
O nível de eficiência da psicoterapia aumentou. Não se fala de garantias, tal qual como na medicina, mas é indiscutível que está melhor do que era há 100 anos, e a hipnose tem auxiliado muito no aprimoramento do tratamento psíquico e emocional.
*BAYARD GALVÃO é Psicólogo Clínico formado pela PUC-SP, Hipnoterapeuta e Palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros, criador do conceito de Hipnoterapia Educativa e Presidente do Instituto Milton H. Erickson de São Paulo. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais utilizando esses conceitos.