Faça e seja diferente, com harmonia
“Se você pode ser uma pessoa melhor, para que ser você mesmo”. Richard Bandler
Talvez você ache estranha essa história de mudar de “Eu”. Afinal, como posso mudar o que eu sou? A base da idéia é distinguir que existem pelo menos duas possibilidades para “ser”. Existe o que sou de verdade e existe o que acredito que sou. Não posso mudar o que sou, mas posso mudar o que acredito que sou.
O que alguém acredita que é define comportamentos possíveis. Por exemplo, se realmente acredito que sou tímido, e se passa pela minha mente um comportamento mais extrovertido, pode ser que seja inibido devido àquela crença. Acreditar que sou capaz de lidar com qualquer situação certamente vai me fazer buscar alternativas, ao invés de desistir. Ou seja, se eu acreditar direitinho, meu cérebro não distingue entre a crença e a verdade.
Um aspecto relacionado às crenças sobre minha identidade é que pode haver distorções. Pode ocorrer que eu acredite em limitações sobre minha capacidade de escrever, e nem tento. Mas o que você acredita que acontecerá se eu começar com uma versão preliminar, depois pesquisar na internet, aplicar a técnica do estímulo aleatório para provocar idéias, dedicar 5 minutos por dia a aperfeiçoar o texto, e ainda pedir a dois amigos para criticar e fazer sugestões? Resumindo, o que alguém acredita que é pode ser ou não útil.
Outro aspecto da identidade é: como alguém determina e sabe que é alguma coisa? Como é que alguém “sabe” que é “brigão”, por exemplo? Certamente deve ser porque têm padrões de comportamento ligados a brigas. Como um tímido sustentará sua crença se não lembrar-se de situações em que agiu com timidez? Portanto, toda crença tem que ter experiências que a comprovam para a pessoa. Esta é a pista para mudar o que somos: se determino o que sou pelos meus comportamentos anteriores, se eu mudar meus comportamentos, logo serei diferente.
É curioso o círculo que se forma: meus comportamentos passados determinam o que acredito que sou, e o que acredito que sou influencia meus comportamentos. É semelhante aos hábitos: “primeiro você faz o hábito, depois o hábito te faz” .
Como mudar então? A solução é intervir inteligentemente nos seus modelos mentais, usando a imaginação para semear novas possibilidades de comportamentos. Um dos nomes para isto é ensaio mental. Você simplesmente dedica algum tempo a ficar imaginando possibilidades de ação, criando experiências internas que depois servirão de referência (ouvi dizer que o Pelé ensaiava jogadas e pilotos de Israel se treinavam usando esta estratégia) . Por exemplo, um tímido pode imaginar-se fazendo algo bem extrovertido, como falar em público. Pode ser que ele se imagine bloqueado, mas como é apenas imaginação, ele pode imaginar-se falando pelos cotovelos, descontraidamente, que não há perigo. Você pode afirmar que, dependendo do que ele falar, vai passar por toda a vergonha que supõe que pode sentir. Concordo. O que ele pode fazer então é imaginar-se também previamente preparando o que vai dizer.
Um ponto importante nesse processo é respeitar as objeções internas. No mais das vezes elas estão enviando mensagens. Medo e insegurança podem indicar necessidade de melhor preparação. Culpa pode indicar violação de valores.
Estruturando, siga os seguintes passos para mudar o que você acredita que é:
1) Determine um objetivo, como “agir descontraidamente entre amigos”. Descreva esse objetivo como algo que possa ser feito, e não algo que você não queira.
2) Descubra comportamentos que definem para você que aquele objetivo foi atingido. Se estiver sem idéias, busque alguma fonte: como uma certa pessoa ou algum personagem de filme ou livro agiria naquela situação? Ou pergunte-se: se eu já tivessse atingido meu objetivo, como agiria? Ou ainda, aplique alguma técnica de criatividade, como a técnica do estímulo aleatório ou pensar em coisas impossíveis.
3) Verifique se os comportamentos são aceitáveis para seus valores e seu sistema em geral, e se serão legais ou úteis (ecológicos) para você e outras pessoas.
Se a resposta for negativa, volte ao passo 2 e modifique ou acrescente comportamentos, até que a mudança se torne ecológica.
4) Faça o ensaio mental dos comportamentos. Simplesmente dedique algum tempo a imaginar possibilidades para os acontecimentos e praticar respostas possíveis. Imagine algo inesperado e procure alternativas de ação.
Tenha em mente que você não vai “adivinhar” o futuro, este nunca é totalmente previsível e o detalhamento final das decisões sempre é feito momento-a-momento. O que você vai estar fazendo é gerando inspirações, que no momento apropriado vão surgir espontaneamente em sua mente. Assim você também vai preservar sua espontaneidade, já que são inspirações e não programações. Uma vez, fiquei incomodado por comer demais e sentir a barriga estufada. Resolvi aplicar essa estratégia: imaginei que, das próximas vezes em que fosse comer, me lembraria dessas sensações incômodas. Fiz isso apenas algumas vezes, e no almoço seguinte, lá estavam as lembranças. Eu continuava escolhendo, mas as lembranças me alertavam da possibilidade, e isso melhorou minha forma de me alimentar.
Pelo menos três comportamentos serão necessários para que um padrão interno seja instalado. E se você fizer essa prática para contextos variados (casa, trabalho, lazer, relacionamento), a probabilidade de sucesso será maior.
Esta é uma forma simplificada de você fazer intervenções em si mesmo; existem várias outras opções para isto. Você tem em mãos uma das mais potentes ferramentas do universo: a sua imaginação. E talvez a distância entre você e um eu melhor seja apenas duas ou três repetições.
Por: Virgílio Vasconcelos Vilela